sexta-feira, 25 de abril de 2008

Mais uma estrela que ficou a cintilar


Com a saída de "cena" de Guida Scarllaty,
o espectáculo em Portugal ficou mais pobre.
Paira no ar uma nostalgia de saudade
difícil de ser compensada por
outra figura, que jamais se lhe igualará.
Até quando?
Uma grande estrela ficou a cintilar
no firmamento artístico português!




Guida Scarllaty

É o nome artístico do ator português Carlos Alberto Nogueira Ferreira, que dedicou a maior parte de sua carreira ao espetáculo de travesti em Portugal. Nasceu em Lisboa, no ano de 1943, de família modesta, estudou arquitectura em Belas Artes, e mais tarde cursou teatro no Conservatório Nacional de Lisboa, tendo por colegas nomes como Irene Cruz, Nicolau Bryner e Henriqueta Maia, entre outros talentosos atores hoje consagrados.

Na década de 70/80 tornou-se no mais popular comediante português ao "vestir" a pele controversa de um personagem exuberante e inesquecível: Guida Scarllaty.


Passou então apresentando os seus próprios shows que obtiveram sucessos enormes nos palcos de Lisboa e na televisão, fazendo manchetes e as delícias de jornais e revistas ávidos de sensação na época.

Antes, Carlos Ferreira já tinha participado em diversos filmes portugueses, fazendo figuração periódica nos estúdios da Tobis Portuguesa, em vários filmes realizados por Arthur Duarte.

Destaque especial para o filme realizado por Manuel Guimarães, "O Crime de Aldeia Velha" (1963), baseado no livro do escritor Bernardo Santareno, com produção de António da Cunha Telles, onde participou do elenco com a atriz (francesa) Bárbara Laage, e os atores (portugeses) Mário Pereira e Rui de Carvalho, Maria Olguim, Alma Flora, entre outros.

Posteriormente, já como Guida Scarllaty deu corpo a diversos personagens em cinema na equipa da Cineground, em filmes realizados pela dupla João Paulo / Óscar Alves, os quais fizeram furor na época pelo arrojo dos temas abordados na década de 70 / 80.


Antes, tinha elencado grupos de teatro em várias companhias, sendo as mais significativas a Companhia de Teatro Gerifalto (infantil, 1960) e Companhia Nacional de Teatro (1965 - na foto à dtª.)) dirigida pelo famoso ator português "mestre" Francisco Ribeiro (Ribeirinho), entre outras.


No início dos anos 70, Carlos Ferreira escreve e realiza foto-novelas para a Agência Portuguesa de Revistas, que são o sucesso de leitura na época. Tinha também como hobi, dirigir um Grupo Cénico chamado "Os Columbófilos", com sede numa Coletividade de Recreios em Cascais, onde ele então tinha sua residência.


Foi aí nesse lugar que ensaiou ainda no tempo do Salazarismo, os primeiros passos na representação em travesti, apresentando-se com diversos personagens burlescos sempre vestido com extravagantes trajes femininos, nas festas organizadas pelo Clube em épocas especiais como o Fim de Ano ou Carnaval.

O sucesso dessas suas representações foi imediato, e transpôs 'fronteiras' chegando rumores á capital, onde se comentava o 'escândalo' que era um homem vestido de mulher naquela época em palco enfretando uma plateia de publico. Só grandes e consagrados atores de teatro como Raul Solnado ou José Viana tinham esse privilégio, sem ficarem conotados com desvios que a sociedade conservadora da época rotulava de homossexuais.

Homens de teatro como o famoso autor César de Oliveira e o encenador Carlos Avilez ou escritores como Mário Cesariny e a poetisa Natália Correia foram espectadores ‘de honra’ e privilegiados desses espectáculos, então considerados ‘perversos e malditos’.



Incentivado por isso, em 1975, Carlos Ferreira rompe barreiras, e 'atreve-se' a vestir pela primeira vez a pele de um personagem chamado "Guida Scarllaty", uma vamp glamourosa, atrevida e sofisticada, com guarda-roupa suntuoso de alta fantasia, misto de luxo e burlesco, inaugurando nessa data aquele que seria o primeiro e mais famoso Café-Concerto de Lisboa dedicado a shows onde o espetáculo de travesti era atração principal.

Foi a grande provocação nacional.

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