segunda-feira, 14 de abril de 2008

A crítica a seus pés



Em 1976, Guida Scarllaty protagoniza uma das maiores rábulas de sua carreira, apresentando a candidatura no Hotel Embaixador, em Lisboa, às Eleições para a Presidência da República, satirizando os militares e políticos que detinham o poder.





Numa surrealista Conferência de Imprensa repleta de um batalhão de jornalistas e fotógrafos, apresentou-se vestida de "generála de sete estrelas" e assume-se como a "candidata de todos indecisos!". "Votem em mim, que eu divirto-os e satisfaço a todos!", era o seu slogan. Dessas eleições, saiu eleito Presidente da República o General Ramalho Eanes, e viviam-se então anos de muita criatividade, com a artista de sucesso em sucesso. São dessa época espectáculos como 'Obrigado Lisboa', 'Vivre La Folie', 'As Meninas do Vira-que-Virou', 'Bonecas de Luxo', 'Virgens à Portuguesa' - entre outros, e o grande sucesso que esteve mais de um ano em cena - o espectáculo 'Goodby Chicago', considerado pela crítica como o "Melhor Espectáculo do Ano". Sucessos atrás de sucessos. Ao fim do 1º. Ano de existência, as pessoas começaram a fazer toiletes para assisrtir às estreias e às festas do Scrallaty Clube, quando ‘vestir bem’ significava ser burguês ou fascista.





Começa então a grande movida pelo Pincipe Real a partir da abertura do Scarllaty Clube. Estilistas como António Augustos mancam ponto habitual nos shows do Scarllaty, o costureiro José Carlos faz os primeiros desenhos no Scarllaty, a sua 'musa' inspiradora, a modelo Laura Diogo - mais tarde Misse Portugal, integra o grupo d' 'As Doce', o Carlos Plantier faz a 1ª. grande reportagem no 'Século Ilustrado', o Vitoriano Rosa na 'Plateia', a Maria Virgínia de Aguiar no 'Correio da Manhã', o Eduardo Gageiro fotografa... o João Alves da Costa escreve sobre o Scarllaty no 'Diário Popular', a Vera Lagoa no 'Sol' e depois no 'Diabo', o Adriano de Oliveira no 'Diário de Notícias', o José Luis de Macedo no 'Exito', o Meira da Cunha cita Roland Barthes na 'Capital', e o Abel Dias faz as primeiras fotografias de famosos no Scarllaty.





Na época, o Scarllaty Clube ganha o Prémio da Casa da Imprensa para o melhor espectáculo do ano com "Goodby Chicago", (na foto em baixo) baseado numa peça musical em cena na Broadway, Nova Iorque, e que recentemente deu o filme "Chicago", com a ousadia do jornalista Neves de Sousa a incluir o travesti de Guida Scarllaty na Grande Noite do Fado, no Coliseu dos Recreios (1978), em Lisboa, onde lhe foi entregue o prémio. (Sic. Livro de Manuela Gonzaga).


Em 1980, Guida Scarllaty declarava á imprensa inspirar-se nos seus trabalhos em duas grandes atrizes que tinham sido símbolos marcantes na sua juventude na arte de representar: a inesquecível comediante portuguesa Laura Alves e a sex-simbol do cinema americano Mae West. Recebeu diversos prémios de interpretação, tendo sido considerado o melhor ator comediante do ano com o Prémio da Imprensa em 1978, atribuido pela Casa da Imprensa de Portugal. Para além do Café-Concerto Scarllaty Clube onde actuava regularmente, Guida Scarllaty passou a atuar também nas melhores casas de espectáculo de Portugal, Teatros e Casinos, percorrendo o país sempre como convidado especial de grandes espectáculos de variedades, participando igualmente como atração de luxo em diversos espectáculos de Revista Musicada Portuguesa no famoso recinto chamado Parque Mayer, a pequena Broadway de Lisboa.





Como exemplo da coqueluxe em que Guida Scarllaty se transformara de atracção nessa época, uma empresa teatral das Produções Vasco Morgado anunciava em 1980 (foto ao lado), a sua participação na revista "Isso é Que Era Bom" no Teatro Variedades, em Lisboa, ao lado do famoso ator cómico Camilo de Oliveira e da actriz Manuela Maria, num quadro de apresentação cujo custo de produção significava um quarto do orçamento total investido no espectáculo, cujos cenários e guarda roupa eram luxuosos e deslumbrantes, evocativos dos bons tempos de Hollyoowd e desenhados pelo famoso figurinista espanhol Juan Soutullo.





Nos anos 80 dá-se o apogeu da carreira de Guida Scarllaty com convites para actuar e aparecer em tudo que era lugar e moda. Acontece mesmo um episódio inédito entre artistas, que ilustra bem a sua popularidade e a dificuldade de lidar com o mediatismo: na época, 'Nova Gente' era a revista 'cor-de-rosa' mais lida de público, artistas e famosos. A sua directora Maria Elvira Bento marcou uma entrevista com Guida Scarllaty á qual estava destinada a 'capa' da edição. O mestre fotógrafo José Marques marca sessões de fotografia, às quais Guida Scarllaty falta sistemáticamente... Atrazos de vedeta!






Que se saiba, foi a primeira - e única artista, a 'voltar costas' à fama que uma publicação dessas na época ainda mais lhe poderia grangear, a ambição de qualquer artista: ser 'manchete' e capa de revista!.
'Ela' confessará mais tarde: "nesse momento, era já um problema muito desconfortável para mim lidar com a popularidade quando saía á rua. Eu não nasci para ser famoso(a).
Aconteceu por acidente de percurso, e isso só me agradava quando pisava o palco. O resto já não me interessava".

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